terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ostra feliz não produz pérola



Rubem Alves escreveu um livro fantástico: "Ostra feliz não faz pérola". Colocarei um trecho ou outro aqui, de vez em quando, das crônicas escritas por ele.


Numa das crônicas, ele diz que a sabedoria das ostras as ensinou a fazer casas, dentro das quais vivem. E que as ostras felizes cantavam bastante, com exceção da ostra solitária que fazia um solo solitário. Não, ela não era depressiva, apenas sentia dor pois um grão de areia havia entrado na sua carne e doía. Mas era possível livrar-se da dor: bastava envolver o corpo estranho com uma substância lisa, brilhante e redonda. Adivinha o que era? Uma pérola!!!


Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Isso é verdade para as ostras e para o ser humano. Segundo o autor, no ensaio de Nietzche, "O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da música", os gregos levavam a tragédia a sério. E faziam o mesmo que as ostras: transformavam a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável.


"A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza para parar de sofrer. Esses são os artistas. Beethoven - como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta alegria?".




imagem: http://georgea-alencar.blogspot.com/2009/06/perolas.html

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