terça-feira, 14 de setembro de 2010

Perder não é sinônimo de não ter

Betty Milan, colunista da Revista Veja, escreveu há mais ou menos duas semanas, ao citar a obra "Cem anos de solidão" (do escritor colombiano Gabriel García Márquez), que o nosso maior desconsolo é a perda do ser amado. De acordo com ela, só superamos a tristeza quando entendemos que perder não é sinônimo de não ter. E que quem morreu já não está no mundo, mas pode existir entre nós. "Fazer o luto é entender que a morte não anula a existência e, que, sem estar, o morto ainda está. Isso requer tempo. Tanto mais tempo quanto menos ritualizada é a despedida".

A colunista escreveu com muita sabedoria que na nossa sociedade evita-se falar da morte e não se tem tempo para tristeza. Acredito que temos o direito de ficarmos tristes de vez em quando. É perfeitamente normal. Mas não, a sociedade não deixa e logo pergunta se está tudo bem e dá a dica de um ótimo antidepressivo. Oras, tristeza não é depressão.

Não ficar triste, segundo Betty, nos expõe mais ainda aos efeitos negativos dela. "Nada é pior do que a tristeza recalcada, de ação sorrateira e consequencias imprevisíveis. Quem não chora o seu morto e não é consolado pelos vivos fica sozinho com a perda. Num certo sentido, é marginalizado. Por outro lado, quem não tem tempo para o sofrimento alheio não pode ter relações de amor ou de amizade".

O bacana é que no romance de García Márquez, os personagens encontram soluções mágicas para os dramas da vida. Pena que não podemos fazer isso. O máximo que nos é permitifo é enfrentar os nossos dramas com um pouquinho de criatividade e aceitar a realidade. Colocar tudo no liquidificador e pronto! Agora é só usar a imaginação. Lutos existem o tempo todo na nossa vida, sem precisar que uma pessoa querida passe para o lado de lá.


imagem: http://omarimbondo.blogspot.com/

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