quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cinderela rala!

Era uma vez uma cinderela que tinha uma queda pelo cara da loja de licor. Sabe por que? Porque o sr. Encantado nunca voltava para casa. E ainda por cima era um xarope. Ele se preocupava com a donzela sim, mas não tinha ideia que, no fundo, ela apenas esperava alguma coisa melhor. Pois bem, um dia, ela encontrou a Bela Adormecida no calçadão. Estava num humor horrível e arrependida, pois preferia ter dormido uma vida inteira a ter que ficar ao lado do príncipe que a impedia de sonhar. Coincidência ou não, a Branca de Neve passou de bicicleta, quanta correria!Carregava na cestinha sabão e detergente. Tinha pressa, coitada, precisava lavar louça. Afinal, sete homenzinhos, faça as contas. Pense! Ela disse que depois de muita água e sabão liga para um tal misterioso e diz “me encontra à meia noite?”. Em meio aos encontros, a Rapunzel telefonou e disse que ficará longe de janelas e andares altos: vai trocar a cobertura do Leblon por uma casinha em Santa Teresa. Ela se queixa pois preferia ter cortado as madeixas ao invés de servir de escada. Melhor assim!


A “estória” foi apenas uma introdução humorada. É que tive um namorado que quando queria me machucar de alguma forma dizia que eu era uma cinderela e que vivia um conto de fadas. Sempre me incomodei com isso! Porque cinderela na cabeça do povo é mesmo um conto de fadas recheado de carruagem, um belo vestido, um rato que se transforma e um sapato de cristal. Alto lá. Não é bem assim não. Cinderela rala! A do conto de fadas lava chão, louça, roupa e ainda tem que aguentar as irmãs rabugentas e a madrasta má. Cinderela rala! A atual corre atrás dos sonhos, trabalha muito, cuida do marido e dos filhos, faz compras de mercado, enfeita o lar, pensa no cardápio do almoço e jantar.


Se é para ser assim, sou cinderela sim no meio de tantas cinderelas a seu modo distribuídas pelo mundo. A diferença é que não perdemos o sapatinho, uma só vez, quando o relógio bate à meia noite. Perdemos várias vezes na vida. Ficamos com um pé só, perdidas, à procura da carruagem. Opção? Bicicleta, patim ou um belo par de tênis para continuar a corrida da vida?! Cinderelas vão a luta e tem outros interesses... até porque...o príncipe encantado perdeu a graça.

ps: A introdução da minha “estória” foi inspirada numa música que adoro: Fairytale, de Sara Bareilles. Coloquei como cenário o Rio de Janeiro, um local que tenho ido muitas vezes, nos últimos meses e que, de uma certa forma, me resgatou de volta. Estou de volta!



5 comentários:

Anônimo disse...

Carol,
Adorei. Atual, poético, inspirado, muito bem escrito, lúcido. Lindo!
Mariângela

Kênia Álvares disse...

Muito bem, Cinderela, seja bem-vinda! E agora que está de volta, não queira menos que a sua FELICIDADE.
Beijo grande,
Com Amor,
Kênia

Unknown disse...

Oi amiga linda, que bom que voltou a escrever!!! Acho que a ajudei nesse processo, né?? Mas deixa os sapos para lá. A partir de agora só principes!!! rsrsrsrsrs

Paiva e Keiko disse...

Nada é mais gostoso de que ir descendo os olhos sobre seu texto na velocidade que o cerebro consegue interpretar seus lampejos de "arquiteta letrística" criando construções que nos levam a seus sonhos.

Você fez falta!! Beijo e fica bem.

Alessandra Bernardes disse...

Adorei. Super criativo. A realidade por trás da fantasia. Se eu fosse a Cinderela eu continuava a sonhar e pegava emprestada a varinha da fada madrinha para revelar os sapos travestidos de príncipes, até que finalmente encontrasse o verdadeiro. :)
Bjs
Ale Bernardes